Fosfato


Eu imagino que o Projetista, quando foi criar o fosfato, deve ter pensado:
"Vou pegar um dos átomos mais power, mais eletronegativos possível, e vou juntar quatro deles num composto só - e pequeno, ainda por cima! - pra ver o que vai dar!"
Deu o fosfato!

Com essa eletronegatividade toda (quatro oxigênios num fósforo centralizado) era bem pouco provável que o fosfato pegasse em alguma coisa. Mas não é que pegou? 
Pegou principalmente numa adenosina, um nucleosídeo (base nitrogenada + ribose, que com os fosfatos nela se transforma em nucleotídeo). O mérito da adenosina é conseguir "segurar a onda" (quimicamente) de três fosfatos na mesma molécula.*


Essa quantidade colossal de cargas negativas que se repelem na mesma molécula (gerando uma espécie de tensão molecular) é um dos fatores que fazem com que toda reação acoplada à quebra (hidrólise) das ligações fosfato do ATP (adenosina trifosfato) resulte em uma reação mais favorável, mais provável de acontecer (∆G negativo, ou mais negativo do que seria sem o acoplamento). É esse resultado da soma das energias envolvidas nas reações que - de uma forma muito abreviada - se explica como: "liberação de energia da ligação fosfato" (e não a própria quebra em si, que na verdade é um processo endotérmico).
Duas outras utilidades "dessa carga toda": 1) transformar o ácido fosfórico (de onde o fosfato provém) em um excelente tampão (celular, principalmente), com três pK (três pH de desprotonação) diferentes, e 2) pela forte atração a cargas positivas formar com o cálcio um cristal (hidroxiapatita, a base da solidez dos ossos e dentes).


*Há outras moléculas orgânicas ligadas ao grupo fosfato, como o fosfoenolpiruvato (reagente da glicólise, a molécula com o menor ∆G de todas) e a creatina-fosfato, todas com alto potencial de transferência energética ao se "desligar" do fosfato.

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